.:: “Cancioneiro Musical Português” |
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Quarta-feira, 14 de Março de 2018 // 19:00 h |
Fixando-se na cidade do Porto, Salvini virou-se para uma carreira no ensino de Canto, Piano e Solfejo. Como professor de Canto, Salvini não entendia por que razão os portugueses não cantavam na sua Língua, preterida em favor do Italiano. Encantado pela sonoridade da Língua Portuguesa e pelos seus poetas, Salvini resolveu tomar a iniciativa de pôr em música os grandes poetas do Romantismo Nacional, de Camilo Castelo-Branco a Garrett, passando por Guerra Junqueiro, Alexandre Braga, João de Deus, entre outros. Começou por publicar em 1865 uma compilação de 40 canções a que deu o nome de “Romanceiro Musical”. As canções são antecedidas de um prólogo, onde Salvini tece louvores à língua de Camões:
«Se abrirmos um livro de Herculano, Garrett. F. Castilho, J. de Lemos, Palmeirim e d’outros muitos, - coraremos por ver tão enraizado entre os portuguezes o prejuízo de que a língua de Camões se não amolda às exigências da voz e está tão longe do idioma de Tasso, que o canto não pode della tirar partido! Grave preconceito, erro grosseiro que tanto areja as flores do Orpheo Lusitano, sem as deixar abrir e exalar os seus perfumes.»[Salvini, Prólogo 1.ª edição, 1866, p. V]
Em 1884, voltaria a publicar esta compilação, rebatizando-a de Cancioneiro Musical Português, 40 melodias na língua portuguesa com acompanhamento de piano e letras dos principais poetas portugueses.
No entanto mais do que empreender um esforço para “conseguir que os portugueses cantem na sua língua”, Salvini queria fundar o “Kunst-lied” (canção de câmara erudita) português e queria uma reforma para a música em Portugal. Procurou apoio, sem sucesso, junto a escritores como Teófilo Braga e Ramalho Ortigão e até junto ao Rei de Portugal.
Enjeitado pelos seus contemporâneos, Gustavo Romanoff Salvini acabaria por tornar-se, até hoje, num nome esquecido no tempo, enterrado debaixo de uma gruta (símbolo alquimista de morte e renascimento, lugar da busca da verdade num útero simbólico, e consequente conscientização na saída para a luz) . Neste sentido, este disco é uma homenagem a um artista notável, à frente do seu tempo, um cientista da voz (autor do 1.º tratado científico sobre voz cantada escrito em Portugal), um homem lutador e perseverante, possível membro do “colégio invisível” da Rosa-Cruz, e alguém que ousou amar a língua portuguesa mais que os portugueses, ao ponto de querer que ela fosse cantada.
TÂNIA VALENTE (soprano) é doutorada em Música e Musicologia, ramo de Interpretação, pela Universidade de Évora. Divide a sua atividade artística com as atividades de docente na Escola de Música do Conservatório Nacional e de investigadora no CESEM e CET-FLUL.
Iniciou os seus estudos musicais no Instituto Gregoriano de Lisboa. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas: Estudos Ingleses e Alemães (FLUL) e em Canto (ESML).
Estudou canto com Helena Afonso, Ana Paula Russo e Marina Ferreira, Luís Madureira e Elsa Saque, Ana Ester Neves, Lúcia Lemos e Elvira Ferreira. Frequentou ainda Masterclasses com Jeanette-Fávaro Reuter e Walter Moore, Mara Zampieri, Tom Krause, Enza Ferrari, Ivonne Minton (Cursos Internacionais de Música do Estoril) Elsa Saque e José de Oliveira Lopes.
Como solista em ópera, foi “Fanny” em “O Tanoeiro” de Thomas Cooper (Teatro da Trindade), “2.ª Dama” na “Flauta Mágica” de Mozart e “Sebastiana”, numa versão portuguesa da sua autoria da ópera “Bastien und Bastienne” de Mozart.
Além de se apresentar regularmente em recitais, é membro do Coro Gulbenkian desde 2005. Com este coro, tem participado em inúmeros concertos de música coral sinfónica, música para coro ‘A Capella’, gravações discográficas, digressões, e em óperas.
Os seus interesses de investigação compreendem a ciência e pedagogia vocal, o teatro musical português dos séculos XVIII e XIX e as relações entre Música e Literatura. Em 2016 organizou o I Colóquio Internacional "Voz no Palco". É colaboradora da “Glosas” - revista de divulgação musical do MPMP - , e autora do livro “A Língua Portuguesa no Canto Lírico: contexto histórico e relações entre técnica e fonética”.
BERNARDO MARQUES (piano) é natural de Lisboa. Realizou os seus estudos musicais na Escola de Música Nossa Senhora do Cabo, tendo terminado o Curso de Piano em 2009 com a máxima classificação, na classe da professora Madalena Reis. Nesta escola, a sua formação passou ainda pelo canto, pela ópera, música antiga (cravo e baixo contínuo) e música contemporânea. Em 2012, concluiu a licenciatura em Piano na Escola Superior de Música de Lisboa, onde trabalhou com Jorge Moyano.
Atualmente, prossegue os seus estudos de piano com Artur Pizarro e de música de câmara com Olga Prats. Conquistou o 1.º Prémio do Nível Superior de Piano no 14.º Concurso Internacional Cidade do Fundão e o Prémio de Melhor Pianista Acompanhador no 8.º Concurso de Canto Lírico da Fundação Rotária Portuguesa.
Tem trabalhado frequentemente como pianista acompanhador e correpetidor, destacando-se participações no Festival Vocalizze, no Festival Coral de Verão, no Curso Internacional de Música Vocal de Aveiro (Curso de Ópera), bem como colaborações com a Fundação Gulbenkian (Coro, Orquestra, Concertos Participativos e ENOA).
Paralelamente ao piano, estudou direção coral e orquestral com os maestros Paulo Lourenço e Henrique Piloto, respetivamente. Tem trabalhado em masterclasses com diversos maestros, como Eugene Rogers, Brett Scott, Jean-Sébastien Béreau e Ernst Schelle, estudando atualmente com o maestro Jean- Marc Burfin. Em 2013, começou a especializar-se em ópera com Elena Dumitrescu-Nentwig. Sob a sua orientação, fundou a companhia Nova Ópera de Lisboa, juntamente com a soprano Alexandra Bernardo. Apresenta-se regularmente em público a solo, em formações diversas ou como maestro.
- "Rosas purpurinas", poema de Gonçalves Crespo (Epitalâmio)
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