.:: Um Músico, Um Mecenas| Estreia Cravo Taskin | |||
Sábado, 27 de Outubro de 2018 // 18:00 h |
A temporada de concertos com instrumentos históricos "Um Músico, Um Mecenas" prossegue com a muito aguardada estreia do cravo Taskin, instrumento datado de 1782 e classificado como Tesouro Nacional, que acaba de ser restaurado. O cravista norte-americano Kenneth Weiss será o músico-mecenas e interpretará um recital com repertório francês. A entrada é livre.
SOBRE O CRAVO TASKIN
Cravo de 1782 do construtor belga Pascal-Joseph Taskin (1723-1793), radicado em Paris, que trabalhou na oficina da família Blanchet, celebrizada por ilustres mestres construtores.
Pascal-Joseph Taskin fez parte da Corporação de Construtores e trabalhava para a Casa Real e para o Rei Luís XVI de França. Em 1780, na sua oficina, construíam-se cravos e pianofortes e, apesar da ligação à corte, continuou próspero e imune à Revolução Francesa, até à data da sua morte em 1793.
Com a Revolução Francesa foram destruídos muitos bens patrimoniais, entre os quais cravos que pertenciam a membros da nobreza. Aliado a este factor, o aparecimento do piano contribuiu igualmente para o desaparecimento gradual deste tipo de instrumento. Assim, os cravos de Pascal-Joseph Taskin ficaram reduzidos a apenas 8 exemplares, que estão espalhados por várias partes do mundo, em museus e colecções particulares.
O instrumento do Museu Nacional da Música tem elevado valor histórico, estético, técnico e material, por ter sido um exemplar construído a pedido do rei francês para o oferecer à sua irmã Marie Clotilde. Concebido de forma luxuosa, é considerado um dos melhores exemplos do trabalho requintado deste grande construtor.
Constituem elementos estéticos importantes a caixa com chinoiserie relevada e policromada de muito boa qualidade.
A rosácea de Andreas Ruckers, o tampo harmónico decorado com motivos florais e datado de 1636 e a inscrição “Andre Rukuers Anee 1636” no frontal, remetem partes do instrumento para uma autoria anterior, procedimento habitual na oficina de Pascal Taskin, dado que Andreas Ruckers havia sido um dos maiores construtores de cravos do séc. XVII.
O Cravo Taskin esteve sempre ligado a figuras relevantes da aristocracia europeia: o rei de França, que fez a encomenda do instrumento, Marie Clotilde, sua irmã, a quem o cravo foi oferecido, o rei Umberto II de Itália, obsequiado pela cidade de Turim com este instrumento musical no seu casamento e, finalmente, a Marquesa de Cadaval, que o recebeu do Rei Umberto II.
Os vínculos institucionais reforçam também a sua importância: a Corte Francesa, a Corte da Sardenha (por casamento de Marie Clotilde com o príncipe Carlos Emanuel IV, futuro rei da Sardenha), o Museo Civico di Arte Antica da cidade de Turim (antes de ser seu proprietário Umberto II), a Casa de Sabóia, e o Estado Português, que o adquiriu e classificou como Tesouro Nacional.
O processo de restauro deste instrumento foi complexo e minucioso, ao longo do qual se desenvolveu um saudável e constante diálogo com o museu e em que estiveram envolvidas equipas multidisciplinares: o restaurador Ulrich Weymar foi o autor da intervenção na mecânica do cravo; técnicos de várias áreas do Laboratório José de Figueiredo consolidaram a caixa, e finalmente o restaurador Geert Karman fez a harmonização e um novo jogo de saltarelos. Simultaneamente, foram ouvidos vários investigadores e conhecedores da história do cravo, assim como o cravista José Carlos Araújo. Muitas outras pessoas ajudaram também o museu neste processo. A todos o nosso agradecimento.
A recuperação do cravo Taskin é, sem dúvida, uma notícia muito esperada e importante para o património organológico português e mundial.
SOBRE O MÚSICO-MECENAS
KENNETH WEISS nasceu em Nova Iorque, onde frequentou a High School of Performing Arts. Depois de estudar com Lisa Goode Crawford no Oberlin Conservatory, continuou com Gustav Leonhardt no Sweelinck Conservatorium, em Amsterdão.
O cravista reparte a carreira entre recitais, música de câmara, ensino e regência. Recentemente tocou em Nuremberga, Montpellier, Barcelona, Dijon, Genebra, Antuérpia, na Cité de la Musique (Paris), Madrid, La Roque d'Anthéron, Santander, Lisboa, San Sebastián, Innsbruck, Santiago de Compostela, La Chaise- Dieu, La Chaud de Fonds, Bruges e Nova Iorque. Apresenta-se em recital com os violinistas Fabio Biondi, Daniel Hope, Monica Huggett e Lina Tur Bonet.
Gravou recentemente o “Cravo Bem Temperado” de Bach, na Cité de la Musique, em Paris, no histórico instrumento Ruckers-Taskin, do Musée de la Musique. O álbum foi lançado em 2014 com grande sucesso e premiado na revista francesa “Classica”.
Kenneth Weiss ocupou cargos de professor na Academia Norueguesa de Música em Oslo, no Conservatório de Barcelona e na Juilliard School em Nova Iorque e atualmente leciona cravo no Conservatório de Paris e na Haute École de Musique de Genebra.
+INFO: http://www.satirino.fr/artists/kenneth-weiss#bio
PROGRAMA
JEAN FERY REBEL (1666-1747)
SAINTE-COLOMBE (1640-1700)
ARMAND-LOUIS COUPERIN (1729-1789)
JEAN-FRANCOIS D'ANDRIEU (1682-1738)
FRANCOIS D'AGNICOURT (1684-1758)
FRANCOIS COUPERIN (1668-1733)
LOUIS-CLAUDE DAQUIN (1694-1772)
JEAN-PHILIPPE RAMEAU (1683-1764)
LOUIS COUPERIN (C.1626-1661)
JOSEPH BODIN DE BOISMOITIER (1789-1755)
JEAN-HENRI D'ANGLEBERT (1629-1691)
“Um Músico, Um Mecenas” é um ciclo de concertos com instrumentos históricos organizado pelo Museu Nacional da Música e que vai já na sua sexta temporada.
Este ciclo procura divulgar um dos mais importantes acervos instrumentais da Europa, com a ajuda de músicos de exceção que atuam pro bono e dão voz a tesouros nacionais e peças de valor histórico único.
Os concertos, de entrada livre, são autênticas viagens à coleção do Museu Nacional da Música, conduzidas por grandes intérpretes nacionais e internacionais, dando a conhecer os instrumentos através de concertos comentados e de uma contextualização histórica estendida, muitas vezes, ao repertório escolhido.
A interpretação, a necessária manutenção dos instrumentos musicais e a comunicação da história de cada um deles são fatores intimamente ligados e que resultam numa ação concertada entre o Museu e os mecenas do ciclo (músicos, construtores/restauradores e outros parceiros).
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