.:: Coral Stella Vitae | Concerto de Início do Ano | |||
Quinta-feira, 17 de janeiro de 2019 // 18:30 h |
Concerto de início de ano do Coral Stella Vitae, integrado num novo ciclo do Museu Nacional da Música que, ao longo de 2018, dará a conhecer o trabalho de vários coros.
Direção artística: Joaquim Gonçalves
Solistas: António Jacinto e Paulo Costa (Tenores) / Jorge Santos, Carlos Lemos e Daniel Paixão (Baixos).
Instrumentistas: Diogo Gonçalves (Flauta transversal) e Paulo Oliveira (Piano)
O gosto pelo canto, a amizade, a solidariedade e a satisfação pela qualidade artística das atuações, são as únicas formas de compensação pela disponibilidade exigida, pelo tempo despendido e, mesmo, pelos encargos pessoais que a participação coral sempre comporta.
Entre outros, foram diretores artísticos do coral, Inácio Aldasori, Alberto Alemão, Jorge Manzoni, António Leitão, Joaquim Gonçalves, João Branco e Victor Roque Amaro.
Tendo-se constituído como associação com fins predominantemente culturais e artísticos, o coral Stella Vitae propõe-se cultivar todas as formas de música coral. E sem perder de vista uma forte ligação ao canto litúrgico, não deixa de se devotar à realização sistemática de concertos espirituais que incluem um vastíssimo e variado repertório de canto gregoriano, de polifonia “a capella” ou com acompanhamento, clássica e contemporânea, de música popular portuguesa e de espirituais negros.
As muitas solicitações que lhe foram e são dirigidas, traduzidas em mais de um milhar de concertos e atuações, em Portugal e no estrangeiro, têm merecido frequentemente os aplausos da crítica especializada, atestando que ao longo dos mais de 70 anos da existência do coral aquele propósito tem sido atingido.
De entre múltiplas intervenções, merecem referência concertos e participações artísticas em atos culturais e religiosos de relevante significado na vida nacional, incluindo participações em vários festivais de música, participações nas cerimónias religiosas em Lisboa e Fátima, aquando das visitas do Papa João Paulo II, bem como a participação, a convite expresso do Vaticano, na celebração da Páscoa e no encerramento do Ano Santo, em Roma, em 1984.
- Gravou, por diversas ocasiões, para a EN (Programas l e 2) e para a RDP, concertos de música gregoriana, de música polifónica e de música popular portuguesa.
Discos gravados:
Iniciou os estudos musicais em 1963, em Vila Viçosa.
De 1966 a 1971 continuou em Évora a sua formação musical e estudou também canto gregoriano com o Cón. Dr. José Augusto Alegria, piano com a Prof.ª Maria Antónia Neto e com o Prof. Serpa Branco e órgão com o Prof. Joaquim Chorão Lavajo, então organista titular da respetiva sé catedral.
Em 1974 e 1975, em cursos de verão, estudou pedagogia musical Ward no Centro de Estudos Gregorianos de Lisboa.
Em 1977 e 1978, no âmbito da ACAAL, frequentou cursos de direção coral e aperfeiçoamento vocal, com Francisco d' Orey e Luís Pedro Faro.
De 1962 a 1971 fez parte dos coros dos Seminários Menor de Vila Viçosa e Maior de Évora, neste dirigindo a «schola cantorum», sob a orientação superior do referido musicólogo Cón. Dr. Augusto Alegria.
De 1971 a 1976 integrou diversos coros da área de Lisboa.
Em 1976 foi admitido no coral «Stella Vitae».
Em 1976 constituiu o coro «Acra», que dirigiu durante 4 anos e com o qual desenvolveu trabalho de recolha, escrita e harmonização de variados temas de folclore (Beira Baixa), base do repertório desse coral.
Em 1983 passou também a integrar o então constituído «Colegium Musicum de Lisboa», sob a direção de António Leitão.
De 1988 a 2006 assumiu a direção artística do coral «Stella Vitae».
Em 2016 (face ao inesperado falecimento do então maestro Vítor Roque Amaro, em Outubro desse ano) acedeu a assegurar a direção artística do «Coral Stella Vitae» nas comemorações do 70.º aniversário do coral, mantendo, provisoriamente, essas funções.
Posteriormente concluiu em 2009 a licenciatura em música (instrumento) e em seguida o mestrado em ensino musical.
Frequentou diversas master-classes e cursos de aperfeiçoamento, com Sandra Pina, Reinde Reeder, Irmela Bossler, Felix Renggli, Averill Williams e Benoit Fromanger.
Foi distinguido com vários prémios FMAC, com o prémio Adriana de Vechi, com Menção de Mérito no Torneo Internationale di Musica, em Madrid e Menção Honrosa com o Duo Zauberflote, no mesmo concurso.
Em Maio de 2006 foi convidado com o Trio Artemis para o Festival Ibérico de Jovens Músicos “Xéracion 2000+6” em Vigo.
Apresentou-se diversas vezes a solo com a Orquestra Juvenil de Instrumentos de Arco da FMAC, bem como nos “Concertos Abertos” da Antena 2.
Em Janeiro de 2006, apresentou-se a solo com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, interpretando o “Concerto para Flauta e Harpa, em Dó Maior, KV 299”, de Mozart, com a harpista Carmen Cardeal, sob a direção do maestro Giuseppe Ratti.
Integra o quarteto “Opus 28”.
Tem vindo a desenvolver intensa atividade como concertista por todo o país, em paralelo com a lecionação de flauta transversal.
Terminou o curso de Piano do Conservatório na Escola de Música de Nossa Senhora do Cabo, em Linda-a-Velha e a respetiva licenciatura no Instituto Piaget.
Atualmente é professor de piano na Escola de Música Musicentro – Salesianos de Lisboa, no Conservatório de Setúbal e no Conservatório de Santarém.
Tem acompanhado ao piano alguns agrupamentos, como os Coros da Universidade de Lisboa, o Coro Eborae Musica, Coro Donna Voce, Coral Luísa Todi e Coro de Câmara de Setúbal.
Com o Coro Ricercare gravou para a Antena 2 algumas das Canções Heróicas para coro e piano, de Fernando Lopes Graça.
Em 2006 acompanhou ao piano o Coral Stella Vitae na gravação (CD) da obra “Messe Noel”, opus 12, de Alfred Desauges.
Na tentativa de mostrar a evolução das formas musicais a nível coral, o programa do concerto abarca, no possível, um leque variado de autores e de obras.
Para que tal objetivo se torne ainda mais conseguido, transcrevem-se em seguida algumas notas breves sobre os temas, os compositores e as obras em causa.
I. Canto Gregoriano
O Canto Gregoriano é uma música monódica, própria da liturgia romana da Igreja Católica.
Inicialmente com o nome corrente de Canto Romano ou Romana Cantilena, passou a designar-se por canto Gregoriano, por referência ao nome do Papa S. Gregório Magno (540-604), a quem se atribui a reforma da música sacra.
Nascido de síntese de influências hebraicas, gregas e romanas, começou a tomar forma no séc. IV (os Magistri Romana Eclesiae, constituídos por centenas de cantos -- quer da missa -- Sacramentário -- quer dos ofícios divinos -- Antifonário -- para todos os dias do ano litúrgico).
Sabe-se que antes da Schola Cantorum, criada por S. Gregório Magno, existia uma Schola Lectorum, que sucedera aos mosteiros da época do Papa Sisto I, primeiros centros de formação do serviço litúrgico romano.
O Canto Gregoriano, difundido por todo o Ocidente pelos missionários, sofreu ao longo dos séculos várias evoluções. Ao princípio era aprendido de cor e era representado por sinais (neumas) e só no séc. VIII surgiram os códices sem designação de intervalos e as formas musicais em verso; até aí, o ritmo gregoriano baseava-se unicamente em textos litúrgicos em prosa -- registando-se, mais tarde, na Idade Média, inúmeras e célebres Sequências em que a forma musical estava relacionada com a métrica.
Durante os sécs. IX, X e XI foram criados os sistemas de escrita para classificação dos sons, mercê do trabalho de teóricos como Ucbaldo (840-930) e Guido de Arezzo (995-1050), a quem se devem a clave, a nomenclatura dos sons (notas) e o aproveitamento dos espaços. Com o advento da polifonia, as leis e o ritmo inicialmente livre do Canto Gregoriano foram profundamente abalados, ficando sujeitos às preocupações musicais polifónicas, às regras do contraponto e à importância que o Renascimento atribui à palavra, situações estas que vieram a ser debatidas no Concílio de Trento.
Só no séc. XIX, com os estudos realizados pelos monges beneditinos no mosteiro de Solesmes e rematados pela obra de D. Andre Mocquereau - Le Nombre Musical (Vols. I e II), publicada depois de aprovação por Pio X, em 1903, se conseguiu elaborar o estudo exaustivo do ritmo gregoriano.
O Canto Gregoriano tem formas várias, quer sob o ponto de vista de execução (antifonários, responsório e canticum indirectum), quer sob o ponto de vista melódico (canto recitativo, antífona, canto melismático, hino, sequência), quer, ainda, sob o ponto de vista do número de notas numa mesma sílaba ou estrofe (canto silábico, canto neumático, canto melismático); importa, além disso, não esquecer as formas próprias dos ritos impropriamente apelidados de canto moçárabe, constituído por antífonas recolhidas nos sécs. VI e VII por Sto. Isidoro de Sevilha, S. Bráulio, bispo de Saragoça e Sto. Eugénio, arcebispo de Toledo.
Pode dizer-se que o Canto Gregoriano teve, melodicamente falando, decisiva influência sobre toda a música ocidental, especialmente sobre a música dita erudita.
Os «Espirituais Negros» são cantos religiosos, oriundos dos negros norte-americanos, geralmente escravos nas plantações do Sul (Luisiana e Virgínia).
Produto da adaptação da melodia de hinos antigos cristãos (a que os negros introduziram, no entanto, intervalos e ornamentos da sua invenção e aos quais deram uma linha melódica distinta dos modelos europeus) e do estilo antifónico de origem africana, era, inicialmente, cantado em uníssono sob a forma de responsório, com ritmo sincopado, ora melancólico ora alegre, não comportando qualquer distinção entre sagrado e profano, tanto pelos temas como pelo facto de ser indiferentemente cantado nos ofícios religiosos ou no trabalho.
À medida que a vida religiosa dos negros se foi desenvolvendo, também se transformou o «Espiritual Negro» e, de um modo geral, a arte sagrada negro-americana, vindo a suportar uma maior efervescência e exuberância de carácter por vezes paroxístico.
No final dos anos 30 verificou-se uma certa tendência para englobar sob o termo «Gospel Song» toda esta música (os espirituais tradicionais, os cânticos exaltados compostos pelos cantores ou grupos que os interpretavam e, ainda, o «preaching» - diálogo que se vai exacerbando entre o padre e os fiéis).
O conjunto destas músicas constitui, juntamente com os «blues», o folclore do Sul dos EUA; espirituais e «gospels» estão muito próximos dos «blues», quer harmónica quer melodicamente, mas, no plano da inspiração, o optimismo espiritual dos primeiros opõe-se ao pessimismo do último.
No domínio do «Espiritual Negro» e do «Gospel Song» contam-se nomes célebres como Mahalia Jackson, Sister Rosetta Tharpe, Marie Knight e Marion William, cujas interpretações se caracterizaram por um lirismo espontâneo de extraordinária beleza, além de Marion Anderson e Paul Robeson que, apesar da celebridade, se condicionaram a uma arte demasiadamente académica.
Todavia, mais do que os intérpretes solistas, são os inúmeros grupos corais quem perpetua os cânticos religiosos dos negros americanos: os «Five Blind Boys», os «Spirits of Memphis», os «Harmonizing Four», etc.
I. Canto Gregoriano
. Rorate caeli (Hino para o tempo do Advento/Natal).
II. Polifonia “a capella” e com acompanhamento
. Puer natus in Bethlehem (Harmonização de António Leitão, sobre o respetivo tema gregoriano).
. Gaudete, gaudete [Hino monofónico de Natal dos fins da Idade Média e que posteriormente (no séc. XV) terá sido transformado em composição polifónica que veio a ser incluída numa coleção finlandesa/sueca de canções sagradas (piae cantiones – publicada em 1582)].
. Hodie Christus natus est [Louis Feltz – 1816-1891 (Antífona do Magnificat das II vésperas da liturgia do dia de Natal — coro e acompanhamento de órgão)].
. Dois Espirituais negros (para solista e vozes masculinas)
. Jubilee (arr. António Leitão)
. Go tell it on the mountain (arr. Melchior Browne)
. Nossa Senhora da Rosa (Manuel Luís – 1926-1981) - Canção ao sabor do povo
. Dirait-on – Morten Lauridsen (1943)
. Sure on this shining night – Morten Lauridsen (1943)
. 9 Natais Portugueses (redução para coro, flauta transversal e piano, a partir de original para coro e quarteto de sopros e para coro e orquestra: António Leitão/Joaquim Gonçalves).
Bendito e louvado seja o Menino Deus nascido ... (recolhido em S. Miguel de Acha)
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