.:: “Ecos e canções de Theresienstadt” | |||
Sexta-Feira, 10 de Dezembro de 2021 // 18:00 h |
No âmbito do Dia Mundial dos Direitos Humanos, Tânia Valente (soprano) e Alexey Shakitko (piano) apresentam o recital “Ecos e canções de Theresienstadt”. Organização: Associação dos Amigos do Museu Nacional da Música. Bilhetes - Normal 5,00 / Sócio - 3,00.
Reservas de bilhetes por email ( This e-mail address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it ) ou telefone (217710990, das 11:00 h às 17:00 h).
O uso de máscara é obrigatório e estarão garantidas todas as normas de distanciamento social e higienização do espaço definidas pela DGS e em vigor à data do evento.
Localizado no Protetorado da Boémia e Morávia (uma região ocupada pelos alemães da Checoslováquia), o campo de concentração de Theresienstadt (fundado há 80 anos), funcionava como campo de concentração e simultaneamente como gueto. Theresienstadt servia dois propósitos: era um ponto de passagem para os campos de extermínio e uma espécie de “residência sénior” para judeus idosos e proeminentes. No entanto, tal era só um estratagema de propaganda usado para enganar as comunidades sobre a Solução Final.
O campo de Theresienstadt era conhecido pela sua vida cultural relativamente rica, que incluía concertos, palestras e educação clandestina para crianças. O facto de ser governado por uma autogestão judaica, e por ali acolher um grande número de judeus importantes, facilitou o florescimento da vida cultural. Entre estes judeus esteve a escritora, compositora e enfermeira Ilse Weber.
Ilse Weber (11 de janeiro de 1903 - 6 de outubro de 1944), nasceu em Witkowitz perto de Mährisch-Ostrau. Poetisa judia, ela escrevia em alemão, sendo autora de canções e peças de teatro para crianças judias. Em 1928 publicou "Mendel Rosenbusch: Tales for Jewish Children" , o seu livro mais popular . Casou-se com Willi Weber em 1930.
Os Webers chegaram ao campo de concentração de Theresienstadt em fevereiro de 1942. Aqui, Ilse Weber trabalhava como enfermeira noturna na enfermaria infantil do campo, fazendo tudo o que podia pelos jovens pacientes sem a ajuda de medicamentos (que eram proibidos aos prisioneiros judeus). Em alternativa aos medicamentos, ela escrevia poemas e cantava canções para as crianças, fazendo-se acompanhar à guitarra. Escreveu cerca de 60 poemas durante a sua prisão e musicou muitos deles, empregando melodias e imagens enganadoramente simples para descrever o horror do ambiente ao seu redor.
Quando o seu marido foi deportado para Auschwitz em outubro de 1944, Ilse Weber ofereceu-se para se juntar a ele com seu filho Tommy, pois não queria separar a família. Ela e o filho acabariam no entanto por ser mandados para a câmara de gás logo à chegada, junto com os seus outros “filhos de Theresienstadt”.
Nos seus últimos minutos de vida, dentro da câmara de gás, consta que Ilse terá cantado para as suas crianças “Wiegelala”. Esta seria a canção de embalar para o seu “descanso eterno”.
Estas canções, apesar do cenário de horror em que foram escritas, procuram transmitir uma mensagem de esperança e de dias melhores. Além disso, - e embora já tenham sido gravadas por Anne Sophie von Otter – nunca foram interpretadas em Portugal.
Convidei o pianista e meu amigo Alexey Shakitko para este desafio. Pedi-lhe que escolhesse algum repertório de piano solo, que se pudesse juntar e criar o ambiente para estas canções, e ele escolheu Brahms.
Para fechar o concerto de uma forma mais “luminosa”, juntaremos este ciclo das canções de Theresienstadt dois lindíssimos Lieder de Richard Strauss: “Ruhe meine Seele” (Sossega minha alma), e “Morgen” (Manhã), ambas canções com mensagens de esperança num amanhã melhor, em que o “sol voltará a brilhar” (und morgen wird die Sonne wieder scheinen). Tânia Valente
TÂNIA VALENTE (Soprano)
Doutorada em Música e Musicologia, ramo de Interpretação, pela Universidade de Évora – com a tese “A Língua Portuguesa no Canto Lírico: um estudo de relações entre técnica vocal e fonética articulatória” -, a soprano Tânia Valente divide a sua atividade artística com a de docente na Escola de Música do Conservatório Nacional e investigadora do CESEM - NOVA/ FCSH e no Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras de Lisboa.
Fez os seus estudos musicais no Instituto Gregoriano de Lisboa (Curso complementar de Canto Gregoriano) e na Escola Superior de Música de Lisboa (licenciatura em Canto). É também licenciada em Línguas e Literaturas Modernas: Estudos Ingleses e Alemães (Faculdade de Letras de Lisboa).
Estudou canto com Helena Afonso (IGL), Ana Paula Russo e Marina Ferreira (JMP), Luís Madureira e Elsa Saque (ESML), Ana Ester Neves, Lúcia Lemos e Elvira Ferreira. Frequentou ainda Masterclasses de “Lieder” com Jeanette-Fávaro Reuter e Walter Moore, de ópera com Mara Zampieri, e cursos de aperfeiçoamento vocal com Tom Krause, Enza Ferrari, Ivonne Minton, Elsa Saque, Oliveira Lopes e João Lourenço.
Como cantora de ópera, foi “Fanny” em O Tanoeiro de Thomas Cooper (Teatro da Trindade), “2.ª Dama” na Flauta Mágica de Mozart e “Sebastiana”, numa versão portuguesa da sua autoria da ópera Bastien und Bastienne de Mozart, produzida com o apoio da Universidade de Lisboa.
Para além de se apresentar regularmente em recitais, é membro do Coro Gulbenkian desde 2005. Com este coro, tem participado em inúmeros concertos de música coral sinfónica, óperas, música para coro A Capella, gravações discográficas e digressões internacionais.
Os seus interesses de investigação compreendem a ciência e pedagogia vocal, o teatro musical português dos séculos XVIII e XIX e as relações entre Música e Literatura. Em 2016 organizou e integrou a comissão científica do I Colóquio “Voz no Palco”, que teve o apoio do CET-FLUL. É autora de artigos científicos e do livro “A Língua Portuguesa no Canto Lírico: contexto histórico e relações entre técnica e fonética”, baseado na sua dissertação de Doutoramento, e convidada regular de palestras.
No final de 2017 lançou o seu primeiro disco, o “Cancioneiro Musical Português”, música do compositor Gustavo Romanoff Salvini, com o pianista Bernardo Marques e outros convidados, projeto este que teve o apoio da Fundação GDA. Desde então, tem andado a divulgar pelo país a música e a obra de Salvini em concertos e conferências, tendo já se apresentado com este repertório em Lisboa, Porto, Sesimbra, Mafra e Bruxelas. Os próximos concertos de apresentação deste projecto levá-la-ão a Paris (Casa de Portugal) e ao Funchal (Conservatório Escola Profissional de Artes da Madeira).
Em 2020, lançou uma reedição comentada moderna da obra “As minhas lições de Canto: Notas ao Vaccai para uso dos Portugueses” de G. R. Salvini, o primeiro método de Canto alguma vez escrito em Portugal em 1884, publicado pela Ava-Editions. É autora e apresentadora do programa “Clarabóia: música e literatura portuguesa”, da RDP Antena 2.
ALEXEY SHAKITKO (Piano)
Em 2012 a conceituada pedagoga e pianista Oxama Yablonskaya, após escutar a sua interpretação da Sonata h-moll de Franz Lizst, elogiou a sua profunda musicalidade e a beleza do som que tirava do piano. Ao longo da sua carreira, estas têm sido também as qualidades que o público e os entendidos mais valorizam em Alexey Shakitko.
Foi o fundador, Diretor Artístico da primeira edição do Festival de Cacimbo de Música Clássica em Luanda Angola de 2017, e fundador da Orquestra Camarata de Luanda. Vencedor do concurso Alion Baltic Festival 2016 na Estónia. Graduou-se na Universidade Estatal das Artes e Cultura de São Petersburgo com a destacada pedagoga Tatiana Lupikina. Em 1998 foi contratado para o lugar de tenor no coro do Teatro Mariinskiy (Ópera de Kirov), sob a direção do principal maestro e diretor do teatro Valeriy Gergiev. Participou em todo o seu repertório com grandes cantores tais como: P. Domingo, A. Bocelli, Renee Fleming, Olga Borodina, Anna Netrebko, Marina Shaguch entre outros. Participou em digressões à Finlândia, Áustria, Alemanha, Itália, Espanha e China. Em Portugal colaborou com o Teatro Nacional de São Carlos, Companhia Nacional de Bailado, Fundação Calouste Gulbenkian, entre várias outras companhias e organizações musicais.
Como tenor atuou com a Orquestra e coro Gulbenkian dirigidos pelo Maestro Lawrence Foster. Em 2002, em Nagóia, no Japão, fez a banda sonora no Audience Award no Ballet & Modern Dance Competition Nagoya. Em 2004 tocou no concerto “Coroa de flores para Chopin” destinado à comemoração do aniversário da Marquesa do Cadaval em Sintra. Em 2005 apresentou-se no concerto de beneficência das vítimas de terramotos na Ásia organizado pelo clube dos Rotários de Portugal. Em 2009 em São Petersburgo: “Noite dos Concertos”, onde tocou, com grande êxito, o piano-concerto duplo de Bach, de Mozart n.º 23 e de Brahms, n.º 1.
Em 2012 foi convidado como ator para o filme “Paixão” de Margarida Gil, produzido por Paulo Branco, onde também gravou a banda sonora de piano, com obras de Piazzola e Balakiriev.
Em 2013-2017 realizou recitais de música portuguesa e russa em Cabo Verde, perante o Presidente da República. Neste período deu vários workshops nas Escolas de Música nas várias ilhas do país. Em 2013 foi convidado pelo estado de Angola para montar um Festival Nacional de Cultura - FENACULT - como membro da comissão e músico. No período entre 2013-2019 atuou regularmente em Luanda, São Tomé e Príncipe, Moçambique, promovendo artistas portugueses, angolanos e moçambicanos. Deu um concerto com o violoncelista japonês Yuki Ito a convite da embaixada do Japão. Também trabalhou como maestro convidado com orquestra KAPSOKA, com vista a prepará-la para digressões internacionais. Ultimamente Alexey Shakitko tem tido atividade como pianista solista, residente na sala de concerto Fernando Rosado pianos. Foi também convidado como Vocal Coach para produção da Ópera «Eugeny Onegin» que foi apresentada em 2020 na Fundação Calouste Gulbenkian sobre direção do Maestro Lorenzo Viotti.
Em 2021 fundou a Associação Cultural Grémio das Artes, da qual é presidente, associação esta que abarca as áreas de educação artística, promoção de espetáculos, turismo e ambiente. Frequenta atualmente o curso de Produção Cultural na Universidade Católica do Porto.
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