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Sábado, 17 de Dezembro de 2022 // 15:00 h
07 December 2022

Pintura contemporânea de Rosário Sousa, inspirada numa pintura rupestre neolítica de Tadrart Acacus (Líbia), que reproduz uma cena de dança Lançamento do livro “Arqueologia do Som, Música e Metafísica”, de Fernando Coimbra, especialista em Arqueologia do Som e professor adjunto convidado do Instituto Politécnico de Tomar. A obra aborda questões como a presença do som na vida quotidiana dos seres humanos desde os primórdios da Humanidade. Momento musical com réplicas de instrumentos pré-históricos. A entrada no Museu faz-se através do bilhete normal (3 EUR), com os habituais descontos aplicáveis.

 

Reservas de bilhetes por telefone (217710990, das 11:00 h às 17:00 h).

 


SINOPSE

 

A Arqueologia do Som, ou Arqueoacústica, é uma área multidisciplinar que se tem vindo a desenvolver desde os finais da década de 80 do século XX, interligando Arqueologia, Acústica, Arqueomusicologia e Neurociência, entre outras áreas do saber, procurando analisar e compreender as experiências do ser humano sobre o som, uma fonte primária de informação sobre o mundo, estando presente sob diversas formas na nossa vida diária, desde as origens da Humanidade. A presente obra tem o som como fio condutor, estruturando-se em sete capítulos, para além de uma introdução e de um epílogo.

 

O primeiro capítulo, intitulado “Sons primordiais e origens da música”, aborda o comportamento musical primitivo desde o Paleolítico Superior, através de flautas em osso datadas de mais de 42000 anos, do uso de estalactites como litófonos e de outros instrumentos musicais que surgem com a descoberta de novas matérias-primas, como tambores em cerâmica, do Neolítico. Mais tarde, com o aparecimento dos metais, surgem diversos instrumentos de sopro que se vão aperfeiçoando ao longo dos tempos.

 

A dança, sendo indissociável de algum tipo de música ou de sons, parece existir desde o Paleolítico Superior, sendo bem evidente a partir do Neolítico, através de cenas representadas em arte rupestre e em cerâmica, tendo, certamente, como resultado uma maior coesão social de pequenos grupos humanos. Trata-se do tema central do capítulo 2 (“O som socialmente organizado”), sendo abordada de acordo com as suas diversas modalidades no seio de sociedades tribais: danças de cura, de caça, de guerra, funerárias, de fertilidade, e de adoração a divindades e seres sobrenaturais.

 

A problemática da existência de fenómenos acústicos em monumentos megalíticos da Europa Ocidental é tratada no Capítulo 3, juntamente com informação proveniente da Engenharia Acústica e da Neurociência, que ajudam a compreendê-los melhor, analisando-se ainda algumas experiências de mente/corpo verificadas na sequência daqueles sons específicos produzidos no interior de câmaras funerárias pré-históricas.

 

O Capítulo 4 aborda a relação entre determinadas frequências sonoras e estados alterados de consciência (EAC), desde a Pré-História, estabelecendo uma “ponte” com a ciência atual, de modo a explicar essas ocorrências no âmbito de uma Arqueoacústica Cognitiva e da Neuroarqueologia. O autor segue a linha de pensamento de recentes estudos de Neurociência, que propõem substituir a noção de EAC por estados ampliados de consciência, e utiliza os postulados gerais da Psicologia Transpessoal como metodologia interpretativa.

 

O Capítulo 5 é dedicado ao estudo do som e da música como terapia, com base em exemplos arqueológicos, históricos e etnográficos, que revelam as suas capacidades de cura já desde tempos imemoriais. São ainda referidos alguns exemplos recentes sobre a utilização de sonoridades específicas na procura do bem-estar e da saúde.

 

O Capítulo 6 analisa o som na tradição védica, recorrendo-se a traduções disponíveis a partir do sânscrito para inglês e para português de obras como o Rigveda, alguns Upanishads e literatura associada. É elaborada uma análise de como esse conhecimento ancestral é ainda hoje muito útil no âmbito do bem-estar físico e mental do ser humano, recorrendo-se a investigação científica desenvolvida nessa área desde os anos 70.

 

O Capítulo 7, intitulado “Metafísica na Música Rock e Pop dos anos 60 e 70”, faz uma reflexão sobre a filosofia profunda que as letras de algumas canções daquelas décadas transmitem ao público, sendo uma temática que, por vezes, surge também representada nas capas de alguns álbuns, constituindo verdadeiras obras de arte. Os conteúdos de carácter metafísico aqui abordados não são apenas descritos, mas também analisados epistemologicamente, sempre que se verifique pertinente para a sua melhor compreensão.

 

Em suma, Arqueologia do Som e Música interligam-se ainda com aspetos de carácter filosófico, numa associação que enriquece a compreensão de todas essas disciplinas. Daí, a inclusão da Metafísica na presente obra, tratando-se de uma temática que despertou o meu interesse a partir da Primavera de 1980, quando comecei a interessar-me por filosofia oriental de tradição védica e por outras semelhantes. A investigação em Arqueoacústica ajuda a explicar o papel do som ao longo da História, os seus efeitos no cérebro humano e o sequente comportamento de indivíduos e de sociedades, permitindo um melhor conhecimento do passado, uma melhor compressão do presente e um melhor planeamento do futuro.

 

Fernando Augusto Coimbra

 


DEMONSTRAÇÃO MUSICAL COM RÉPLICAS DE INSTRUMENTOS PRÉ-HISTÓRICOS

 

A partir do Paleolítico Superior existem evidências de um comportamento musical primitivo, certamente baseado durante muito tempo apenas em vocalizações e no bater de mãos, nas palmas e nas coxas, produzindo assim as origens da percussão. Há cerca de 42 000 anos surgem flautas em osso de grandes aves, tratando-se do primeiro instrumento musical construído intencionalmente. No Neolítico, a descoberta da cerâmica vai possibilitar a construção de tambores com pele de animal. A presente demonstração baseia-se na utilização de réplicas de instrumentos pré-históricos – uma flauta neolítica em osso e dois tambores da mesma época em cerâmica.

 

Fernando Coimbra, Especialista em Arqueologia do Som.

 


FERNANDO AUGUSTO COIMBRA é doutorado em Pré-história e Arqueologia pela Universidade de Salamanca, Professor Adjunto Convidado do Instituto Politécnico de Tomar, onde é responsável pelo módulo “Arqueoacústica e Arte Rupestre”, no âmbito do Mestrado Erasmus Mundus – Arqueologia Pré-histórica e Arte Rupestre; investigador Integrado do Centro de Geociências da Universidade de Coimbra, onde, em 2010, concluiu Pós-doutoramento em Arte Rupestre; e vice-Presidente do Centro Português de Geo-história e Pré-História. Efetuou diversas palestras por convite em Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia. Publicou cerca de 115 artigos científicos e 12 livros sobre Arqueologia, Arte Rupestre, Arqueoacústica e Património Cultural, entre outros temas. Estuda filosofia védica desde a primavera de 1980 e é músico amador.

 

Relativamente à investigação em Arqueoacústica, foi membro do “Hal Saflieni Hypogeum Acoustic Project”, em Malta (2014), escreveu o prefácio das actas do congresso internacional “Archaeoacoustics II, the Archaeology of Sound” (Istanbul, 2015) e foi membro da Comissão Organizadora e da Comissão Científica do congresso seguinte realizado em Tomar (2017). Foi ainda coordenador da Comissão Organizadora dos symposia “Archaeology, Archaeoacoustics and Neuroscience” (2018 e 2019), ambos em parceria com o LIMMIT – Laboratório de Interação Mente-Matéria de Intenção Terapêutica (Hospital Universitário de Santa Maria) – onde é investigador colaborador externo. Mais recentemente (2021), foi keynote speaker do II symposium Internacional “Music, Sound and Wellbeing”, organizado pela Universidade da Finlândia de Leste, na cidade de Joensuu.